30 de set. de 2011

ROTINA...




Imagem do meu arquivo pessoal.

ROTINA


Crianças para a escola. Marido para o trabalho. Confere os e-mails. Um riso brota pelas letras engraçadas que lê.  Enche a xícara de café, uma lembrança surge com o seu aroma forte. Desfaz do rosto o sorriso e a testa franze. Escova os dentes tirando da língua o gosto amargo da recordação. A notícia do irmão enfermo. Faz uma prece por sua cura. Outra pela paz no mundo. E pela vida. Notícias frescas chegam a todo instante. Aftosa no Paraguai ameaça contágio com o gado dos países vizinhos. Pensa no aumento da carne. Pensa tornar-se vegetariana. O gosto da soja a desanima. Pondera e pensa optar por frutos do mar. De peixe também se vive, além de ser saudável! Lembra da mãe do amigo com o fêmur fraturado. Anota para comprar cápsulas de cálcio. Melhor sempre mesmo é a prevenção!  Outra prece. Agora, pela mãe do Zé. Imagina não ser a sua recuperação o pior, mas as doenças oportunistas que surgem pelo excesso de dias no leito hospitalar. Agenda rezar uma novena inteira em sua intenção. Oração nunca é demais. Sabe como é bom ter fé! O espelho mostra que os dias estão passando depressa demais.  As suas feições estão mais semelhantes a de uma mãe do que a da mulher que é. Pensa em cremes:  Anna Pegova, Lancôme Primordiale Optimun nuit, Avène Eluage Creme, Natura Chronos 45, Avon Renew... Pensa em beleza e lhe surge em mente a polêmica sobre o novo comercial da Gisele Bündchen. Acha bobagem vetarem o anúncio! Pensa que a Gisele retratou bem o que as mulheres fazem na intimidade. Ainda na pia do banheiro, gargalha sozinha. Quase engasga com o creme dental só de pensar quantas vezes ela mesma se valeu do poder de sedução para dobrar o marido. São armadilhas femininas e não objetos sexuais! Se homens podem dar um diamante para criar um clima, por que a mulher, que é uma bela jóia humana não se pode dar para o marido na troca de beijos e amassos em  lugar de brigas e broncas? E qual mulher, mesmo fora dos padrões de beleza, nunca abusou de seus atributos femininos para mimar o marido ou namorado? Fica rindo diante do espelho lembrando das brincadeiras a dois com o companheiro. De novo vê seu reflexo. E nota que alegria remoça. Pensa em rir mais. Lembra da apresentação do ator e humorista Rodrigo Sant'anna que esteve em cartaz na cidade. Bem que deveria ter ido assistir o humor  “ai como tô bandida” com a Carmencita! Confere as próximas apresentações nos teatros. Agenda para ir. Concorda com a frase “rir é o melhor remédio”. Fica rindo e percebe o poder antiidade que o bom humor tem. Atende ao telefone. Fixa os olhos em algum ponto. Preocupa-se. Lembra do envelhecimento. Simula um riso. Desfaz a cara tensa. Pega o livro sobre o sofá. Lê duas ou três páginas. Pensa na recomendação do filho. Admite que o Diário de um banana é um livro muito divertido, mesmo para quem já ultrapassou a barreira da juventude! Os problemas ficam dentro do livro e o sorriso se espalha pela casa. Percebe que faltam ingredientes para a torta de domingo. Confere a receita. Anota na para comprar depois do expediente no consultório. Separa uma roupa. Espia pela janela o tempo. Vê que o Sol não veio. Imagina-o dormindo no colchão azul do céu coberto com cinzas nuvens. Separa outra roupa. O tempo requer vestes mais quentes. Pega o batom, a base e o lápis, presente da amiga e, contorna os olhos. E passa a sombra lilás. Afinal, é primavera! Usa o perfume de baunilha e fecha os olhos para perceber melhor o seu aroma. Dá bom dia para a cachorra que lhe faz festa. Promete-lhe não demorar mais do que o tempo de atendimento com seus pacientes, mesmo sabendo que a volta para casa nunca se deve marcar hora. A vida lá fora, com suas ofertas e atrações, seduzem o tempo e normalmente prendem mais do que se deve. Pensa na segurança da casa. Confere portas e cadeados. Uma câmera daria mais proteção. Nada! Lembra de reportagem no condomínio cheio de equipamentos de segurança invadido por meliantes. Antes de sair, pede proteção aos céus “toma conta do que é meu, Senhor”. Pensa na mãe e a saudade enche seu coração de colo materno e quase chora. Pensa que irá visitá-la em breve. Lembra-se de que tristeza envelhece. Pensa em coisas bonitas e alegres. Pensa na risada da mãe e nas piadas do pai. Sorri largo. Abre o portão e vai. E pensa. Pensa. Pensa e pensa. Pensa que o que mais faz na vida é pensar. Mas que de pensar é que faz as coisas acontecerem. E sorri. Enquanto sorri, é jovem. E se jovem, não envelhece! E segue pensando e sorrindo. Pensa que nunca vai parar de pensar. Nem de sorrir... Uma rotina que promete seguir rigorosamente!
 
Djanira Luz

29 de set. de 2011

COISAS BOAS DE SENTIR...


Foto acima do meu arquivo pessoal - Captura por Ana Catarina Luz


COISAS BOAS DE SENTIR...
 

Estou com minha alma em festa
na mente só pensamento que presta
Ando vendo além do externo belo
o interior puro é o que mais zelo
Não valorizo o ser pelo o que tem
o luxo do coração sim é o maior bem
Crianças e idosos trato com igualdade
livre de preconceitos com a idade
Sei bem a importância e o valor do dinheiro
mas a realização pessoal penso primeiro
De tudo posso deixar para mais tarde
só não admito que minha alegria retarde!



Dias felizes para você leitor e você leitora!rs

 


 
Djanira Luz

28 de set. de 2011

INDELÉVEIS CICATRIZES...


Imagem do livro "Imagens gaúchas - RBS publicações, pág. 06"



INDELÉVEIS CICATRIZES...


Tenho cicatrizes visíveis e as ocultas. Algumas me reportam para dias de molecagem e trazem de volta ao rosto o riso maroto de menina travessa. Há cicatriz que lembra bronca de pai: “Quem mandou subir no muro!?” e, tem algumas que me colocam ao lado da melhor amiga dos dias felizes da infância. A mesma marca que tenho no joelho, ela ainda deve ter uma igual, creio.Quase já não tão nítida, mas a lembrança do tombo deixa-a sempre marcante aos meus olhos.

Tenho cicatrizes dentro do corpo, subcutâneas. Das duas cesáreas que me trouxeram filhos do ventre ao colo. Foram as melhores marcas da minha vida! Cicatrizes têm essa coisa de serem recordações. Das lágrimas felizes ou de nos fazerem chorar uma dor sofrida.

Tenho cicatrizes por dentro,bem tatuadas na alma. Quando o pensamento toca-as, uma saudade escorre dos olhos. Sim, são cicatrizes deixadas do amor que não vingou. Foi-se o tempo da paixão, mas ficaram em mim de lembrança, as suas marcas.

19 de set. de 2011

SEM DESPERDÍCIO DE TEMPO!


Imagem arquivo pessoal - "Delicadezas de Deus"


SEM DESPERDÍCIO DE TEMPO!



Outro dia parei e notei o tanto de tempo desperdicei em vão. E me prometi ser mais criteriosa quanto ao tempo dispensado para cada coisa.

Já perdi tempo com leituras cujos livros não acrescentaram nada de bom em minha vida. Perdi tempo fazendo algo que não era agradável deixando de fazer aquilo que me preencheria verdadeiramente com delícias ou ensinamentos. Assisti a muitos filmes por assistir ou para agradar alguém.

Por comodismo realizei tarefas que não me levaram a lugar nenhum, nem me trouxeram resultados satisfatórios. Fiquei estagnada perdendo tempo de uma vida em amores platônicos que não valeram o tempo perdido. As horas são únicas e não voltam nem que você implore de joelhos! O tempo perdido, gente, nunca mais se recupera!

Então, a partir daquele dia não perco meu tempo com algo que não me acrescente algo positivo ou que me ensine a ser melhor enquanto pessoa ou enriqueça minha vida com coisas benéficas e edificantes.

Hoje, filmes e livros, só os que me valerem dispensar-lhes tempo de apreciação da boa leitura e filmagem. Tarefas, somente as que me trouxerem satisfação ou que sejam produtivas e estritamente necessárias. Amor? Nada platônico! Amor precisa de reciprocidade para vingar e crescer forte e bonito como tem que ser. Amor é troca. Não desperdício unilateral de sentimentos.

Aproveite você também o seu tempo com aquilo que lhe traga prazer e merecido retorno! Dance, leia, dialogue, ouça, realize, lute, cante, ame, viva!  Desde que tudo valha à pena gastar tantos minutos necessários para a recompensa final. E que essa recompensa seja sua plena satisfação!

Seja feliz todo dia!rs
Djanira Luz

17 de set. de 2011

TUDO O QUE SEI E NÃO SEI E O QUE AINDA POSSA SABER...


Imagem do arquivo pessoal e captura de Ana Catarina - "Perspectiva"


TUDO O QUE SEI E NÃO SEI E O QUE AINDA POSSA SABER...


Não consigo acertar tudo. Nem sei de todas as coisas. Tantas vezes não me faço entender e um Universo de problemas me causam por isso. Nem toda hora estou de bem das palavras e acabo atropelando-me nelas. Nem toda vez caio, mas ficam as marcas roxas na alma.

Nem todo riso que ofereço recebe retorno, então visto-me palhaça e não perco a graça. Nem todo choro que sofro é acalentado, aí sorvo a tristeza. Seco o pranto e não incomodo aos que não querem saber da dor do outro nem de si mesmos.

Nem tudo o que escrevo são flores ou estrelas, também nem são tudo espinhos ou opacos! A nem todos os olhares agrado. Nem de todos, porém, cobiço aplausos. Nem tudo o que digo pode ser certo, mas as verdades são todas minhas.

Nem tudo o que penso realizo. E nem penso tudo o que realizo. Não sou dona das palavras, a não ser as minhas próprias! Não sou a dona do mundo, mas a parte que me cabe cuido direitinho. Não sou dona da cocada preta, mas até já aprendi a fazer!

De tudo, menos sei das coisas que imagino saber. Só sei que estou disposta a aprender. Quero consertar o que penso que sei, pois entendo não é tudo certo o que penso. E nem sei ao certo como se é ou se faz todas essas coisas que meu pensamento e olhos alcançam.

Sou eu assim, imperfeita no ser. No ver. No sentir. No pensar. No tudo que me há. Ah! Permita-me a licença das tantas falhas em mim. Sou ser humano! E ser humano, dizem, é assim...
Djanira Luz
        

12 de set. de 2011

VIDA DE BORBOLETA...

A linda Imagem das borboletas é captura e autoria de Adaly Pinheiro. Caso  não autorize a postagem, avise-me por favor que retirarei imediatamente. Obrigada


VIDA DE BORBOLETA...

Como as borboletas, vejo pessoas que parecem morrerem em duas semanas ou quarenta e oito horas, conforme a espécie,  quando algo não vai bem ou alguma coisa dá errado. Deixam-se morrer em pouco tempo, desistindo dos sonhos e das suas conquistas e, diferente das borboletas, ao invés de aproveitarem o máximo das horas, desperdiçam suas asas e escurecem seus dias pelo desânimo e tristeza.

As borboletas, não! Essas aproveitam ao máximo os minutos voando entre flores perfumosas. E bailam felizes no seus ziguezaguear perfeitos de bailarinas aéreas. Além de transmitirem irradiante felicidade (pois borboletas são de fato criaturinhas alegres), elas contagiam aos quem têm o privilégio de lhes ver dançar como que, em cada bater de asas, fossem palmas a vida cujo o céu pinta de azul os dias ensolarados. Sejam dois dias ou duas semanas de vida, elas curtem intensamente cada momento!

Alguns eventos fazem-nos mesmo esquecermos a magia das borboletas. É quando a dor parece crescer mais do que nos cabe e alcança dimensão que sai do controle do limite suportável. Não dura, muito, não é? É, porém, suficiente para o estrago e perdas de sorrisos. Nessas horas devemos nos lembrar do pouco tempo de vida da borboleta feliz que sabiamente delicia-se em vôos sem importar-se com o que lhe virá depois. Sem lamentar pela condição de tempo que lhe resta viver toda a beleza que há.

E assim, uma força poderosa há de revigorar-nos o ânimo mostrando o tanto de segundos, minutos, horas, dias, meses e anos temos para fazermos que nossas vidas sejam as melhores possíveis! Bastando apenas que contemplemos as borboletas e, com ela aprendamos a celebrar tudo o que está disponível aos nossos olhos e ao que alcançamos tocar e sentir. Também esta capacidade imensa crescente em nosso peito de sabermos infinitamente amar.

A vida renova-se a todo o momento. Há muito mais beleza neste mundo do que os todos os grandes problemas enfrentados pelo ser humano. Se uma pequenina borboleta é capaz de aproveitar ao máximo o seu tempo neste mundo, por que você não seria?

Bons e alegres vôos para você dia-a-dia!rs


Djanira Luz

6 de set. de 2011

COM SUAS IDEIAS EM MOVIMENTO...


Imagem do meu arquivo pessoal.



COM SUAS IDEIAS EM MOVIMENTO...

Amanhecera vestida de água. A noite longa de choro mal lhe deixara dormir. Ao mesmo tempo que cheia dos pensamentos que pesam e preocupam, sentia a alma lavada tantas foram as lágrimas derramadas.

Prometera para si, a partir daquela manhã fazer-se fogo. Seria forte! Não poderiam os maus sentimentos outra vez ferir-lhe por dentro. Seria firme! Tomaria decisões acertadas. Mudaria o rumo e o final de suas histórias.

Imaginou-se terra, onde os pés feito raizes resistentes que buscam o bem fundo para se fincarem em segurança.  Agindo assim, imitando as raízes, nada abalaria suas certezas. Firmar-se-ia solo obstinente sem chances para erosões desgastantes problemas.

Desejou ser ar. Ter a suavidade da vida soprando em suas narinas dando-lhe a leveza de ideias e descobertas que a capacita voar. Voos tranquilos e distantes. Libertar-se-ia dos choros e aborrecimentos. É! Dos quatro elementos, preferiu ser ar. Percebeu quem sem ele que  permite a viagem do pensamento em voos livres e criativos, não adiantaria a refrescância da água, nem o poder do fogo. Nem a força da terra.

Era do ar de que mais necessitava para continuar vivendo! Sem ele, que a fazia voar em ricas imaginações, seus escritos não existiriam e seus sorrisos seriam menos. O mundo nem tomaria conhecimento de suas letras se não estivessem espalhadas através do vento de suas criações com suas ideias sempre em movimento...

 
Djanira Luz

4 de set. de 2011

ALÉM DAS DOCES LEMBRANÇAS...


Imagem do meu arquivo pessoal. "Prato de recordações - Cocada preta da vó baiana"


ALÉM DAS DOCES LEMBRANÇAS...




Acordei com o gosto na boca da cocada preta. Típica receita baiana que a vó Vicência trouxe na mala quando veio para o Rio passar um tempo na casa dos meus pais. Engraçado é que não como cocada feita por vovó há décadas, mas o sabor é atual na minha lembrança...  Lembro-me bem da sua passagem por nossas vidas. A casa cheirava novos aromas. Patchouli
para lavagens das roupas. Lavanda para perfumar o corpo. Muita canela e cravos para os doces caseiros, além do dendê e leite de coco para as moquecas tão gostosas!


Acho que todo mundo tem saudade de alguma boa receita. Seja da mãe, pai, avó, nona, tia, irmã, não importa. Em algum momento bate na memória o desejo de saborear aquele doce ou salgado maravilhoso que os anos não apagam o gosto.

É bem verdade que lembranças boas são doces. Quero dizer, doce no sentido de bom de lembrar. Pensando assim, acabo de ser invadida com outra recordação. Um dia mamãe dissera que faria um doce de mamão para sua mãe. Fiz cara de repúdio ouvindo-a dizer aquilo e opinei:

-Credo, mãe, doce de mamão? Que coisa mais nojenta!

Acontece quando pronto, espiei-o na panela e não resisti em provar porque me pareceu tão bonito.Tinha aparência de cocada, mas era transparente e a calda grossa pedia para entrar na minha boca. Quando mamãe foi encher o pote com o doce para vovó, ficou espantada, pois eu havia comido muuuuita coisa! Ela ainda ficou curtindo comigo:

 “- Eu não vou comer essa coisa...” 

Pois é, mamãe! Doce de mamão ralado tornou-se um dos doces caseiros mais apreciados por mim.

Bem, voltado para a cocada preta, a vó quebrava o coco. Porque coco tinha que ser natural, do contrário a cocada daria errado. E a rapadura precisava ser especial. Por isso que ela trouxera algumas da Bahia.


A mente da gente é algo mesmo maravilhoso! Enquanto escrevo vejo vovó ralando o coco, depois despejando a rapadura em lascas na panela, mexendo-a levemente até que seja transformada em melado. Aí ela acrescentava aos poucos o coco e um punhado de cravos-da-índia e fica mexendo e mexendo e mexendo até o ponto certo.

Ai, como era difícil esperar pelo tal do ponto certo! O cheiro tentava-me parecendo dizer “prova-me, prova-me, prova-me”. Mas eu sabia que depois de pronto ainda teria que esperar muito até que esfriasse para finalmente degustar aquela iguaria. A minha boca salivava tanto de vontade que eu mais parecia o nosso cão Lobo, um Deutscher Schäferhund (Pastor-Alemão).

Nossa! Valeu mesmo esperar o tempo do preparo, pois ficara divina a cocada preta da vó baiana! A gente a comia de colher. E, depois da vovó, ninguém mais teve mão boa para essa cocada. Então eu, sua neta com muita pimenta, dendê e sangue baiano nas veias, atrevi-me a experimentar a receita que não tenho escrita em uma folha, mas gravada na memória desde meus sete anos de idade.

O cheiro, a aparência, o gosto me transportaram para décadas e décadas atrás no momento em que subia da panela seu aroma. Talvez não tenha ficado do jeito especial com o tempero certo de anos das mãos habilidosas e treinadas da vó baiana. Sei, porém,  enquanto preparava a cocada, eu trazia para perto de mim muito mais do que os cheiros e ingredientes da cocada. Era vovó que estava junto comigo na minha doce saudade das suas receitas de quitutes, de carinho e de vida...
 
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