29 de abr. de 2009

O BOM HUMOR DO DEUS QUE SE FEZ HOMEM...


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O BOM HUMOR DO DEUS QUE SE FEZ HOMEM...


José estava naqueles dias de puro azedume como fosse fruta ácida: limão galego, groselha colhida no pé ou biri-biri lá da Bahia. Nada estava bom para ele, tirou o dia para chorar as mágoas e foi escolher justo Ele para ouvir suas lamúrias:

-Ó Deus! Desce aqui... Faz favor que eu quero falar olho no olho com o Senhor. Quero protestar, quero reivindicar umas coisas entaladas na minha goela que não quer descer nem com um punhado de farinha de mandioca! E não adianta mandar Seu Filho por que eu sou pai também e quero é falar de pai para Pai, entendeu?

Creio que José não tinha noção do que dizia, menos ainda do que pedia...

Mas, Deus que ouve todas as preces e lamentos, achou graça do destempero daquele cabra da peste arretado e se fez homem como José e foi ter com ele para ouvir suas insatisfações. Embora que Deus conhecesse todos os pensamentos de José, num gesto nobre de humildade, desceu do céu e caminhou até aquele homem que o convidara para uma prosa.

Ao ver aquele homem aproximar-se, José ficou deveras assombrado e gritou:

-Que diabo é isso!!??

-Alto lá! Não me confunda com o inimigo! Eu sou o Teu Deus. Acaso não me chamastes?

- O Senhor é o Meu Deus? Mas, por que então precisa vir assim feito eu em imagem e semelhança? Levei um baita de um susto pensando ter um irmão gêmeo que desconhecia, ora essa!– José estava mesmo espantado.

- José... Tu bem sabes que sou a Verdade e por assim O ser, eu preciso fazer que se cumpram as palavras das Sagradas Escrituras e hoje me fiz tua imagem para me fazer igual a ti para te sentires em Mim como eu Me sinto em ti...

- Iiiiiiiiihhh... Já vi que hoje vai ser dia de Sermão da Montanha! Mas, olha só meu Deus... Não vai dá, não por que tem jogo do Flamengo e Botafogo e eu não perco por nada neste mundo!!!

Deus, complacente que só Ele, riu com o cantinho direito dos lábios admirando a sinceridade do coração do José sem máscaras diante do próprio Criador. E Deus disse:

-Não, José... Hoje é você quem vai falar e não importo se serão duas palavras ou um sermão, pois tenho todo o tempo do mundo para ouvir um filho meu...

Após ouvir as palavras de Deus, José ficou até sem jeito com tanta demonstração de amor, chegando mesmo a esquecer-se de que era pai... Naquele momento era apenas filho, um filho de Deus e sentiu-se embalado pela bondade das palavras do Senhor.

Mas, José era tinhoso! Estava decido a protestar, afinal foi para isso que havia feito o Bom Deus descer até ele! E, além do mais, só mesmo Deus para tirar-lhe as espinhas de dúvidas e insatisfações que trazia na garganta...

Antes, porém, de José começar a sessão de protestos, fitou bem o rosto de Deus feito ele em imagem e semelhança, franzindo a testa, disse para o Pai celeste:

- Nossa, meu Deus “eu”, que raio de nariz mais feio é esse? O meu nariz não é desse jeito, não!

Deus, feito José em imagem e semelhança, com a mão no queixo segurando o riso, chamou José:

- Venha, meu filho. Vamos até ali na lagoa.

Ao aproximarem da lagoa, ao suave gesto das mãos de Deus, a lagoa se fez límpida e transparente como um espelho e José pode ver a duplicidade do seu reflexo na água – ele e Deus nele e, ali diante da evidência nítida como a água, José constatou que o nariz do qual havia zombado e desprezado era idêntico ao seu.

- Mas, como é que pode? Isso não é possível! Nunca imaginei que meu nariz fosse assim...

Deus em sua rica sabedoria e desmedido amor, ia passando gratuitamente ensinamentos para seu filho José:

- Amado filho José... Tu não encontraste defeito em teu nariz por que o ser humano só vê defeitos em seus semelhantes...

Nesse instante José emudeceu. Era nítida a decepção em sua face. Em poucos minutos, com meias palavras, Deus havia revelado uma grande lição que levaria por toda a vida!

José até pensou em desistir do seu protesto, porém, Deus sabia que ele precisava falar as amarguras que afligia-lhe o coração caso quisesse sentir-se homem livre.

E, animando José, disse-lhe Deus:

- Então, diga-me José... Para que mesmo tu me chamastes?

Como se despertasse de um transe, José demonstrou disposição outra vez para reclamar:

- Senhor, nas Escrituras Sagradas diz que o Senhor colocou o homem acima de todas as coisas, inclusive dos animais... Mas eu tenho cá minhas dúvidas, o Senhor sabe por que da minha incredulidade?

- José, meu filho, saber eu sei... Não sabes que conheço todos teus pensamentos? – Respondeu-lhe Deus sorrindo.

-Aaaaahhh, então estou aqui fazendo papel de palhaço! Só me faltava essa! Será que estamos aqui num circo aberto fazendo gracinhas para os anjos e querubins lá no alto do céu? Contrariou-se José.

- Aquiete seu coração, José! Deus sabe, mas Deus gosta de ouvir... Prossiga, vai...

- Tá bom, assim seja! – E José continuou suas inquietações. – É o seguinte, eu não me sinto melhor do que as aves do céu; elas podem voar e eu não, sou limitado; não me sinto superior ao lince que corre velozmente; se dou uma corrida é canseira na certa; a tartaruga já nasce com a casa nas costas, eu tenho que ralar para conseguir uma; o gavião enxerga longe, eu nem de perto enxergo bem; a formiga consegue carregar peso bem maior que seu tamanho; no meu caso carregar peso é ter problemas sérios na coluna; os peixes respiram de baixo d’água, se eu bobear, morro afogado! E vou parar por aqui por que eu levaria dias provando para o Senhor que nós humanos não somos melhores nem superiores do que todas as criaturas...

Terminado o protesto de José, Deus aproxima-se dele, toca-lhe o ombro, depois a cabeça e sussurra-lhe ao ouvido:

- Abra tua mente, José! Ela está fechada, ouça com atenção que por ora te direi, assimila, guarde meus ensinamentos e passe adiante... Meu filho, ao homem foi dado algo que o torna superior e melhor acima de toda criatura sobre a Terra. Ao homem foi dada Sabedoria, Inteligência, Capacidade de raciocínio e Lucidez. Com o raciocínio o homem constrói o que quiser. Constrói aviões, helicópteros, asas deltas e afins, dessa forma pode voar igual uma ave no céu; com uma diversidade de máquinas criadas com o intelecto humano, constrói carros, motos e pode correr tão ou mais rápido do que um lince; com habilidades peculiar de cada humano constroem-se as mais belas e variadas moradas nos mais distantes pontos da Terra de forma a ter a facilidade de uma casa como a tartaruga, o jabuti ou o cágado... Com ferramentas específicas, o homem não tem necessidade de carregar peso... De posse de sabedoria e inteligência, o homem torna-se superior à quaisquer criaturas, José! As tuas limitações, meu filho, estão presas em tua mente. É preciso abrí-la para que entrem o discernimento, o conhecimento e a capacidade de criar! Se bem que tem hora eu pense que exagerei na dose de inteligência dada ao homem... Existem muitos querendo se passar por mim. Sorte minha que sou “macaco velho” e não ensinei o “pulo do gato”!

José estava mesmo maravilhado com tudo o que acabara de ouvir da boca divina de Deus. Sentiu-se até mais forte, superior. Era um homem novo e perdera o azedume do início daquele embate. Gostou também de conhecer o lado bem humorado de Deus, não lembrava de ter ouvido alguém comentar que Ele poderia ser assim tão divertido...

Aproximou-se do Deus Pai para o abraço de gratidão... Porém, Deus manifestou o desejo de fazer um protesto, pois a ocasião parecia-lhe propícia:

- José, eu também tenho algo para protestar...
- O Senhor, meu Deus!? O que aconteceu? – Quis saber José preocupado, afinal se Deus tinha algo de que reclamar é por que a coisa estava feia para o lado dele!

- Aconteceu não, José... Acontece sempre! Por isso que fico preocupado com o que andam falando aqui na Terra a meu respeito, usando o meu nome para tudo quanto há. – Então, Deus que se fez homem em imagem de José, estava com aquela feição contrariada feito José em dias de azedume...

- Prossiga, Senhor, prossiga... Pois, aqui o único que tem o poder de ler pensamentos é o Senhor mesmo... Eu, pobre ser, fico roendo unhas de curiosidade!

- José, deixa disso... Não cobices meus talentos...– Deus repreendeu aquela pequena tentação de José.

E continuou:

- Eu procurei propagar o Amor sobre a Terra. Cheguei a enviar meu Filho Amado a fim de que, através dEle, compreendessem a imensidão do meu Amor... E há momentos que sinto vontade de descer até aqui na Terra, fazer tipo você com seu jeito arretado de reclamar e meter um sopapos em certas pessoas que ensinam tudo errado para uma criança, dizendo:

"- Se você não fizer direitinho, Deus vai castigar você!”

- Ora! Se eu sou Amor, Verdade, Vida, que raio de ensinamento contraditório é esse? Sou Transparência, Clareza e fazem de Mim motivo de confusão para uma criança que desconhece o que é pecar! Sinto que na maioria das vezes o que o homem diz não condiz com minhas verdades, mas com as “verdades” que usam para benefícios próprios!
- Como assim, Senhor? Não entendi... – José tinha dúvidas...

- Para fazer com que uma criança obedeça, muitos adultos fazem chantagem, atemorizam uma criança me pintando mais feio do que o próprio encardido... – Respondeu-lhe Deus.

- Sabe, o Senhor tem razão! E tem certas igrejas, meu Deus, que fazem mais propaganda das maldades do demo do que das suas maravilhas. Eles dizem “o diabo vai fazer isso, vai fazer aquilo outro”, acabam despertando mais atenção para as profundezas!

-Pois, é José... Comercializaram a fé, banalizaram o Amor... Por isso quando retornou para mim, meu filho Jesus lamentou me dizendo:

"- Tá vendo, Pai! Não adiantou eu ter sido escorraçado, maltratado, crucificado! O homem a cada dia mais está descrente de Nós... Eu deveria ter descido como Rei e dado umas boas bordoadas naqueles ingratos! É por isso que São Francisco prefere os animais... Se você dá umas chineladas em seu cão e depois o chama, ele vem balançando o rabinho. Agora você dá um prato de comida para um necessitado e se um dia recusa ajuda por não ter, esse mesmo necessitado arma-lhe uma cilada para vingar... Raça de víboras! João Batista estava certo!"

- Jesus falou desse jeito, Senhor!? – Quis saber José de surpreso com os modos do Filho de Deus.

- É... Quando eu o enviei à Terra, Ele se fez homem e a parte mais incisiva humana aflorou nEle... Mas, de volta ao céu, todos os defeitos caem por Terra... - Esclareceu-lhe Deus.

- Ah, então foi por isso que Ele perdeu as estribeiras lá no templo metendo umas chicotadas naquela desordem! E quanto aos defeitos deles caírem por Terra, vê se me erra, Senhor! Se quiser, tem um lugar bom de lançar defeitos, pois é uma cúpula repleta deles e mais um menos um defeito... – José morria de rir, referindo-se aos políticos do país...

- José... – Até Deus achou graça. No fundo, bem no fundinho daquele coração enorme e generoso de Deus, Ele sabia das verdades ardidas da língua sincera de José.

- Meu Deus, agora me faço filho e venho pedir que derrame sobre mim e minha família uma bênção generosa, redobrada. Faça-me um homem melhor para que eu saiba aceitar o próximo com suas falhas, com seus defeitos, pois sei e acredito que perfeito só mesmo o Senhor, meu Pai Eterno!

- Vejo sinceridades em tuas palavras, meu Filho José! Bênção ou maldição é tu mesmo quem escolhes... Se respeita teu semelhante e os trata com amor, humildade, terás uma vida abençoada. Se és arrogante, mesquinho e diverte-se com o sofrimento alheio, a maldição será tua eterna companhia. Toma conta dos teus pensamentos, guarda a palavra ferina! Se não puderes proferir a Boa Palavra, cala-te para que não venhas cair em tentação!

Deus, aproximou-se de José e o abraçou paternalmente com seu imenso Amor.

- Oh, Deus como são doces seus ensinamentos e como sou pequenino para acolher toda sua graça!

- Ame José, ame desmedidamente e antes de fazer qualquer coisa, coloque-se no lugar, desta forma freará teus ímpetos de injustiça e acima de tudo, permaneça em mim. Independente da denominação religiosa a que pertença, em todas as divisões feitas pelo homem estarei lá. Estarei sempre onde houver um coração sincero, uma manifestação de solidariedade, uma pureza de sentimentos. Pois eu sou o Amor, esteja pois, em sintonia comigo. E que a paz permaneça contigo, José!

Dizendo isso, Deus tornou-se Luz e voltou para sua morada.

Mas, José sabia que, na verdade, Deus estava ali dentro dele, nas plantas do jardim, na água do mar, no canto dos passarinhos, no beijo apaixonado, enfim, em toda forma de amor que há - é ali que habita o Senhor...


Djanira Luz
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