19 de mar. de 2010

CRÔNICA DO COTIDIANO - Sujando letras ...



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CRÔNICA DO COTIDIANO
- Sujando letras ...


“- Roupa suja lava-se em casa!” – Alguém repetiu o velho dito e continuou: - Então pare de jogar protestos no ventilador, nada de palavras ao vento!

Acontece que Breno não estava nem aí se iria lavar roupa com pouco sabão. Ia sim emporcalhar as vestes da mentira com a cara amarrada da verdade machucando a quem não gosta de ouvir coisa certa. Queria mesmo era entornar água da bacia e virar o balde da insatisfação e ver rolarem frustrações boca afora.

- Pouca razão só sujará mais suas mãos, homem! Deixa disso... Resguarde sua índole!

E quem disse que Breno em dias de pano pra manga quis saber da sensatez do silêncio ou de meias palavras? Tudo estava intenso naquela fase da sua vida! Então, esparramadas deveriam ser as falas atravessadas na garganta de repressão.Às favas os bons costumes, o jeito pudico, o ar recatado e cortês habitualmente utilizados diariamente por sua boa educação.

- A verdade só é feia e dói a quem traja a suja mentira! Não quero nem saber! Hoje fico nu das minhas inquietações e desengasgo das hipocrisias. Não me importo de sujar letras limpas com falas sujas. Certas horas, rigidez das palavras faz-se necessária. – Bradou Breno.

O amigo percebeu a seriedade da resposta precisa e, finalmente, teve que concordar com o que ouvira. Homem lúcido e culto também tem seus dias de destempero e rompantes. Era permitido viver aquele momento raro de quinta categoria.

Breno abriu a gaveta, olhou mais uma vez a foto da mulher. Era possível ver o vermelho da ira em seu olhar e mil setas envenenadas fitando a imagem em sua mão. A traição alterava o pensamento, os sentires e as palavras do homem traído.

Num movimento brusco, mandou o porta retrato de encontro a parede. Cacos de vidro saltaram luzindo reflexos do Sol invadindo a janela do escritório. A fotografia deslizava solta no ar num balé desengonçado até pousar no chão.

Enfurecido, pegou o celular, discou o número tantas vezes chamado. O dedo acostumado nem precisou do auxílio das vistas para ligar. Respirou fundo aguardando ser atendido. Ouviu a voz do outro lado da cidade e simplesmente proferiu em alto e bom tom:

- VAGABUUUUUUUUUUUUUUUUUNDA!

E desligou. Roupa lavada! Relação entornada pelo ralo fétido do desamor. Fim.





Djanira Luz
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