13 de fev. de 2010

A MULHER SEM CORAÇÃO...


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A MULHER SEM CORAÇÃO...


Todos perceberam a drástica mudança no comportamento e no humor daquela mulher. Havia muitos dias que se fechara para as conversas que tanto amava. Antes atenta, agora era vista assim, dispersiva, divagando introspectivamente.

Ela que possuía riso fácil e que expressava energia em gestos elétricos do corpo numa alegria pulsante e contagiante que trazia em si, encontrava-se
naquele marasmo de causar compaixão.

Quem a encontrava nos últimos dias precisava falar-lhe duas ou três vezes para obter um fiapo da sua atenção. Distraída como que fora de órbita. Olhar fixo em algum ponto que lhe era precioso a procura de algo igualmente caro.

Sempre que a via, causava-me comoção. Tudo nela estava mudado. O jeito, as vestes, a aura. Quisera entender o motivo de tamanha transformação. Para onde deveriam ter ido os sorrisos constantes, os olhares brilhantes e alegres de mil diamantes, a fala adocicada e melodiosa, a empolgação de tantas andorinhas que fazia de um simples fato, a mais alucinante das histórias encantadas?

Não queria parecer indelicada ou ser vista como uma curiosa qualquer. Mas, eu precisava descobrir a razão do silêncio forçado, do sorriso desfeito, dos sonhos interrompidos e da boca emudecida que tomaram conta da vida dela.

Maior do que minhas interrogações era o desejo em ajudá-la. Foi o que me moveu aproximar-me da mulher. Um tanto sem jeito e um leve tremor na fala, dei quase inaudível uma “boa tarde”. Para minha admiração ela me olhou sem qualquer expressão de ódio ou desprezo. Havia sim, em sua face, a mesma expressão de insegurança e dúvida que eu tinha naquela hora.

Ambas estávamos receosas com a atitude da outra. Eu não sabia o que perguntar, ela o que responder. Depois de grande silêncio que me congelou a alma, a mulher outra vez me fitou. Desta vez mais pausadamente como que analisando em meus olhos as perguntas que a boca não ousou fazê-las.

Balançando a cabeça afirmativamente, num consentimento e aceitação em satisfazer minhas questões, finalmente falou:

- Quando se foi num adeus comprido, daqueles que sabemos sem chance de ver outra vez, ele levou de mim meu sorriso, meu canto e a claridade dos meus dias. Descolori, emudeci, já quase não existo... Era o que esperava entender, não era minha jovem?

A voz ainda era doce, embora a amargura sufocasse qualquer vestígio de contentamento. É! Ela estava certa. Em poucos minutos, sem qualquer pergunta, obtive todas as respostas que sanaram minhas inquietações.

Eu havia desvendado o mistério que assombrava a triste mulher. Pude perceber com minha intuição feminina e, talvez, ela sequer tenha desconfiado o motivo de encontrar-se naquela solidão sem esperanças. É que mais do que risos, brilhos e sonhos, o homem amado havia levado junto para onde partiu, o coração daquela mulher, deixando-a com o vazio na alma...



Djanira Luz
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