17 de nov. de 2009

A MULHER SEM CORAÇÃO...


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A MULHER SEM CORAÇÃO...


Todos perceberam a drástica mudança no comportamento e no humor daquela mulher. Havia muitos dias que se fechara para as conversas que tanto amava. Antes atenta, agora era vista assim, dispersiva, divagando introspectivamente.

Ela que possuía riso fácil e que expressava energia em gestos elétricos do corpo numa alegria pulsante e contagiante que trazia em si, encontrava-se
naquele marasmo de causar compaixão.

Quem a encontrava nos últimos dias precisava falar-lhe duas ou três vezes para obter um fiapo da sua atenção. Distraída como que fora de órbita. Olhar fixo em algum ponto que lhe era precioso a procura de algo igualmente caro.

Sempre que a via, causava-me comoção. Tudo nela estava mudado. O jeito, as vestes, a aura. Quisera entender o motivo de tamanha transformação. Para onde deveriam ter ido os sorrisos constantes, os olhares brilhantes e alegres de mil diamantes, a fala adocicada e melodiosa, a empolgação de tantas andorinhas que fazia de um simples fato, a mais alucinante das histórias encantadas?

Não queria parecer indelicada ou ser vista como uma curiosa qualquer. Mas, eu precisava descobrir a razão do silêncio forçado, do sorriso desfeito, dos sonhos interrompidos e da boca emudecida que tomaram conta da vida dela.

Maior do que minhas interrogações era o desejo em ajudá-la. Foi o que me moveu aproximar-me da mulher. Um tanto sem jeito e um leve tremor na fala, dei quase inaudível uma “boa tarde”. Para minha admiração ela me olhou sem qualquer expressão de ódio ou desprezo. Havia sim, em sua face, a mesma expressão de insegurança e dúvida que eu tinha naquela hora.

Ambas estávamos receosas com a atitude da outra. Eu não sabia o que perguntar, ela o que responder. Depois de grande silêncio que me congelou a alma, a mulher outra vez me fitou. Desta vez mais pausadamente como que analisando em meus olhos as perguntas que a boca não ousou fazê-las.

Balançando a cabeça afirmativamente, num consentimento e aceitação em satisfazer minhas questões, finalmente falou:

- Quando se foi num adeus comprido, daqueles que sabemos sem chance de ver outra vez, ele levou de mim meu sorriso, meu canto e a claridade dos meus dias. Descolori, emudeci, já quase não existo... Era o que esperava entender, não era minha jovem?

A voz ainda era doce, embora a amargura sufocasse qualquer vestígio de contentamento. É! Ela estava certa. Em poucos minutos, sem qualquer pergunta, obtive todas as respostas que sanaram minhas inquietações.

Eu havia desvendado o mistério que assombrava a triste mulher. Pude perceber com minha intuição feminina e, talvez, ela sequer tenha desconfiado o motivo de encontrar-se naquela solidão sem esperanças. É que mais do que risos, brilhos e sonhos, o homem amado havia levado junto para onde partiu, o coração daquela mulher, deixando-a com o vazio na alma...



Djanira Luz

O HOMEM DA SAUDADE...


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O HOMEM DA SAUDADE...


Passava horas na sacada, solitariamente pensativo e triste. Tinha uma saudade traduzida no olhar. Entre um suspiro e uma espera, seguiam vazias as horas do homem.

Era comum vê-lo ali, naquele mundo cujo tempo havia estacionado no exato momento escolhido por ele, onde certamente acreditava ter sido a perfeição de seus dias. O tempo em que viveu ao lado da mulher amada. O único amor que provara verdadeiramente.

Incansavelmente contemplava o céu com suas estrelas reluzentemente belas, cujos brilhos traziam bem mais perto a luz do amor que se permitiu perder.

A Lua, inconsolada por testemunhar tamanha dor e incomodada pelo silêncio do homem, ela que era detentora de palavras magicamente apaixonadas e poéticas, disse-lhe:

- Homem, o que esperas? Que fazes dia após dia a contemplar o Universo com esse olhar de que tudo vê e nada tem?

Ele que, apesar da expressão distante e perdida, conservava no semblante um tênue ar de esperança, respondeu:

- Se fosse somente pela razão, cara Lua, não esperaria mais coisa alguma. Mas, como quem insiste em esperar é meu incansável coração, tenho confiança de que ela, a minha amada, venha para mim...

A Lua quase pôde ver uma luminosidade na face e nos olhos do homem quando mencionada a mulher amada. Então, ela suspirou ao homem:

-Ah... Já faz tanto tempo que ela se foi, ou melhor, que tu deixaste de amá-la, meu amigo...

- Não e não! Eu nunca deixei de amá-la, nem um minuto sequer desde o dia em que nos separamos. O meu amor ainda é dela. Eu só não soube conservá-la comigo... – Explanou o homem.

Após proferir aquelas palavras presas por muito tempo na garganta e na alma, a Lua percebeu nos olhos do amigo homem o brilho de mil estrelas apaixonadas luzindo nas lágrimas que brotavam do coração saudoso.

Diante daquela visão, a Lua ficou envolvida em névoa de compaixão pelo casal separado. A Lua comovida pelo sofrimento da mulher que foi abandonada e pela ausência de coragem do homem, sentiu que precisava agir para tentar ajudar duas vidas repletas de paixão.

Lua e homem emudeceram em melancolia. O silêncio tomou conta da sacada onde o homem aguardava e aguardava numa espera infinita e inútil. De repente a Lua aproveitou um tempo em que nuvens encobriam sua boa educação e gritou:

- Homem tolo! Desistir do amor não é uma atitude digna! Não sabes que o amor é o maior e mais nobre dos sentimentos? Do amor não se desiste e nem se pode viver sem! Viva o hoje amando para que o amanhã possa usufruir da companhia dele e das boas lembranças passadas. Olhe para si, homem cheio de saudade e me responda se valeu não ter lutado pelo seu grande amor? Não creio! Vives só dentro de si. Podes estar rodeado de mil queridos, mas a pessoa amada era a única capaz de lhe preencher o dia e a vida de alegria...

Surpreso com o destempero da tão amável Lua, o homem atentou para cada palavra pronunciada por ela.Compreendeu bem que se fizeram necessárias aquelas frases enérgicas da amiga celeste. Sim! O homem assimilou bem o recado cheio de verdades iluminadas.

Ele entendeu o grande erro que havia cometido. Além de fazer a mulher amada sofrer, também sofrera diuturnamente por longas datas. Bem melhor seria ter sofrido ao lado do seu grande amor! Pois, ao menos um secaria a lágrima do outro e seguir retirando os espinhos dos caminhos ainda é bem menos doloroso do que viver dias frios de solidão.

Se o homem reencontrou a mulher amada a Lua não me contou... Mas, eu sei que ele, depois da sacudida dada pela Lua, vive a alertar aos enamorados a não desistirem de seu grande amor por medo, covardia ou insegurança. O homem aprendeu a lição.

Como aquele homem, eu também aprendi que o amor quando forte é graça divina descida do céu, não devemos deixá-lo escapar. E que o amor não é feito a Lua com suas fases. Não. Amor não vem e vai. Amor permanece porque ele é certeza e garantia de uma vida inteira de eternos momentos de êxtase.


Djanira Luz
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