9 de set. de 2010

HELGA, A VIDA SEM SISO...















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HELGA, A VIDA SEM SISO...

Perdia-se a conta do tanto conselho ignorado ouvido da mãe. Com incansável recomendação de que desse valor aos estudos, aos pais e a própria vida, dona Nina tentava por juízo nos miolos moles da filha. Desde muito nova demonstrava aptidão para vida fácil e dom nenhum para tudo que rimava com responsabilidade. Coisa mais imbecil de certos adolescentes! Acreditam na eterna juventude. No ritmo do “deixa a vida me levar” que amanhã eu penso em coisa séria. O agora para eles é só festa e muito beijo na boca.

Aviso não ouvido, geralmente chega a hora da cobrança. Com a morte do pai, apesar de já estar com vinte e dois, Helga persistia com o mesmo gênio forte e teimoso da adolescência. Conservava o semblante altivo de quem a nada e a ninguém ouve ou dá atenção. A sua má fama corria solta. Amizade só com os rejeitados do bairro que, como ela, não tinham respeito por ninguém nem com eles mesmos. Eram péssimas companhias que as outras mães azedavam a cara só de mencionar seus nomes. Queriam mantê-los distantes dos filhos. Tinham consciência do estrago que a influência negativa era capaz de fazer na família.

Aos trinta anos, depois que mãe faleceu, um fio de consciência num repente doeu. Não pela perda em si, mas por constatar de que estava vazia. Não foi nada na vida. Não era nada e nada conseguira juntar. Nem mesmo um amor para o consolo das horas solitárias. Nenhum companheiro permanecera ao seu lado mais do que alguns dias. Devido a ser vulgar, uma semana era o tempo suficiente para els desaparecerem. Nenhum conseguiu mudar seu jeito. Daí era melhor abandoná-la. Por isso vivia mendigando companhia. Fosse quem fosse. Ninguém a considerava. Perdera o respeito há muito tempo no bairro onde vivia. Até as crianças faziam piadas quando passava pela rua. Sem pai, sem mãe, sem moral, precisou sair a busca de ajuda.

 
Quando se viu bater na porta do único irmão é que teve real consciência da vida miserável que se encontrava. A casa simples denunciava vida modesta. Sabia que ele não tinha muito, embora nada lhe faltasse, nem para a mulher e os filhos. Ao ver a irmã no portão demonstrou desejo nenhum em recebê-la. Para a maior humilhação de Helga, apiedou-se dela a cunhada. Justo ela, meu Deus! Foi a primeira vez na vida que Helga sentiu-se envergonhada. Lembrou-se do quanto ofendeu aquela que naquele momento abria a porta e o sorriso em seu auxílio. Sem demonstrar qualquer repúdio ou ressentimento por tudo que Helga lhe havia feito sofrer, a cunhada ajudou-a carregar para dentro do quintal as poucas tralhas que trazia. O irmão disse-lhe que por ele não daria guarida, mas pela insistência da mulher, deixaria ficar. Naquela noite dormiria no sofá da sala.

 
Logo cedo, Helga foi até os fundos da casa. Viu que o irmão levantava uma parede de tijolos onde antes estavam telas de arame. Era o canil que antigo proprietário da casa mantinha doze cães. A cunhada ajudou a lavar o local que passaria a ser seu quarto. O irmão ainda teve capricho de pintar o pequeno cômodo.

 
Helga incomodou-se com a real dureza. Bem ali, diante da sua nova morada lembrou-se da mãe e dos conselhos não ouvidos. Triste sina. Tarde para o arrependimento. Muitas recordações confusas na mente. Entendera que a vida irônica escolhera local adequado para lhe acomodar. Num canil! Acreditou ser merecedora das tantas ofensas recebidas dos homens que teve e das pessoas que reprovavam seu modo leviano de viver. Amargurada, proferiu para si num rompante de fúria:


- CADELA!


Djanira Luz

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