Eis que vim envolta Em Quatro Elementos - Sou maioria água, ser humano é assim; sou fogo quando necessário; sou terra, de mim brotaram frutos; sou ar, minha imaginação me permite voar... Sou feminina e forte como a mulher Mãe Natureza! ;Djanira Luz
Todos textos, poesias ou frases neste Blog são de minha autoria. dj@
- Carla, não aguento mais ficar de arranca-rabo com o Tony! – Desabafou o pai.
- Calma, Elias! É a idade... – Justificou a mãe.
- Idade... Quando Tony tinha oito anos e aprontava você dizia que era a idade... Quando ele ficou adolescente e começou a ficar respondão, você dizia que era a idade... Agora com dezoito anos ele está um homem feito e você continua a dizer “é a idade”, mas que droga de vida é essa? – Bradou o pai alterado.
- Elias... Como mãe e enquanto mulher preciso ser ponte para unir vocês dois, cabeças duras. – A mãe compassiva tentava abrandar a agitação do marido.
- Fica botando pano quente nas atitudes desse rapaz que ele vira uma cobra e ainda pica você! – Zangou-se Elias.
- Deus me livre, Elias! Não diga umas sandices dessas... Morde na língua! Sabe muito bem que a palavra tem poder. De tanto ficar pensando coisas ruins é que elas se realizam. Ainda bem que enquanto você o amaldiçoa eu vou o abençoando! – Carla repreendeu o marido.
- Eu falo de preocupação... Mas, eu amo nosso filho. Ele foi uma criança desejada, só não entendo nem aceito a rebeldia gratuita dele.
- Se nós que somos pais não tivermos paciência com ele aí é que corremos o risco de afastá-lo para sempre da nossa presença. – A mãe disse pensativa.
- Essa casa quando chego do trabalho parece uma torre de babel... O som alto até quase estourar meus tímpanos e o Tony que, apesar de estudar numa ótima faculdade, usa uma linguagem para mim incompreensível, se é que se pode chamar aquilo de linguagem! Daqui a pouco surge uma nova lei em defesa dos direitos da juventude e liberdade de expressão e introduz ao nosso vocabulário essa pobreza de linguagem. – Protestou o empresário.
-Ah, chega Elias! Até parece que você não usava gírias. Como você me chamava mesmo, hein? Ah... Era de “tetéia” e olha que coisa mais feia! - Brincou Carla.
- Feia... Você adorava quando a chamava assim... – Elias até relaxou a expressão sisuda com as lembranças da mulher.
Carla sabia que precisava dar um jeito naquela situação. Quantos casais se separam por causa dos temperamentos dos filhos. Lembrou-se da amiga dizendo: "Antes da nossa filha ter crescido, nunca havia brigado com meu marido... A situação saiu do controle e você sabe como alguns homens agem, se não tá bom, eles nem se importam com os filhos, largam a família na hora em que mais se precisa de ajuda..."
Carla olhou para Elias e disse:
- Tá bom... Agora vai trabalhar que já está na hora...
Já ia entrando no carro quando Carla o chamou:
- Querido...
Ele olhou e esperou que ela dissesse:
- Hoje vou conversar com o Tony, peço que não desista dele nem perca a paciência. Pense que é fase de transição de conflitos... Daqui a pouco ele vai ter que caminhar com as próprias pernas, trabalhar, entrar no mundo adulto, ter responsabilidades e isso assusta e você sabe disso. Há muitos pais que abandonam os filhos aos primeiros sinais de rebeldia. Eu não farei isso, jamais. Ele é meu filho e o amo demais. Vou lutar por ele. Vou resgatá-lo. Trazer de volta aquele menino maravilhoso que ele sempre foi...
Elias era metido a durão. Entretanto, ao ouvir aquelas palavras vindas de um coração de mulher, de uma mãe, deixaram-lhe os olhos vermelhos. Nada disse. Aproximou-se da mulher, deu-lhe um beijo carinhoso depois disse:
- Desculpe pelas durezas que disse, estava nervoso...
- Quando você tinha vinte dois anos e nós brigamos por que eu perdi, acidentalmente, as entradas do jogo, você pedia desculpas e dizia que estava nervoso... – Brincou a mulher falando do mesmo jeito que ele a havia acusado por defender o filho.
- Nem me lembre daquele jogo que dói até hoje! – Disse rindo e entrando no carro seguiu para a empresa.
Depois que Tony chegou da faculdade de Medicina, a mãe já havia planejado sair com ele, pois queria pôr em prática uma ideia que lhe ocorreu:
- Tony, meu filho, vamos ao circo? – Perguntou de uma só vez para dar impacto e o filho não pensar em um desculpa para não ir.
- Circo? Qual é, Mãe... Tá pensando que ainda tenho cinco anos? Viajou, maluco! – Zombou o filho.
A mãe, viva, esperta, cheia de artimanhas, fez uma encenação. Pôs no rosto uma tristeza sem fim, dessas de fazer cortar o coração, olhando para o filho foi falando pausadamente como se tivesse aquele nó na garganta de vontade de chorar até o amahecer:
- Está bem... Eu vou sozinha mesmo. Aliás, estou sempre só... Já estou me acostumando com essa realidade. Virou as costas e foi andando cabisbaixa.
O filho era rebelde, respondão... Mas, no fundo era um ótimo rapaz e a mãe sabia disso. Mãe sabe até onde vai a agressividade de um filho, por isso ela fez aquela manha de mãe carente.
Arrependido e incomodado por ter magoado a mãe, Tony diz antes dela sair do seu quarto:
- Mãe... Espera... Vou só trocar a camisa, guenta aí...
- Não precisa, eu entendo que não queira sair comigo e... – Foi interrompida por ele.
- Nada a ver... É que circo não curto muito. Mas, quer saber? Vai até ser “manêro” ver umas palhaçadas. Só que vou avisando... Vou zuar legal lá! – Avisou Tony.
- Eu é que vou! Paga pra ver, só! – Divertiu-se a mãe.
Palhaços, mágicos, corda-bamba, trapezistas... Ainda não era aquilo que Carla queria que o filho visse. “Será que não vai ter?” A mãe estava um tanto ansiosa. Tony com pipocas e churros nas mãos lembrava mais aquele gurizinho de oito anos de idade que morria de medo dos palhaços.
Foi então que vieram eles. Leão e seu simpático domador. Carla sorriu satisfeita com aquela visão, pois era justo que precisa no momento para pôr seu plano em prática.
-Olha, Tony! Quero que preste bem atenção na fera e no domador.
-Por que, qual é a parada? – Tony ficou curioso.
- Apenas olhe... – Disse a mãe.
Ao fim da apresentação, Tony diz para a mãe:
- Foi “manêro”! Deu maior agonia ver aquele maluco enfiando a cabeça dentro da boca cheia de dentes do leão. – Comentou Tony.
- É que o domador, meu filho, domou o leão... Só que o domador só conseguiu isso por que antes o leão “domou” a fúria dele. – A mãe ia falando de maneira detalhada para que o filho entendesse o ensinamento que ela tentava lhe passar.
- Puxa, mãe... Bacana o que você disse aí. – Tony olhou para mãe como se descobrisse nela uma mulher cheia de virtudes.
A mãe aproveitou aquele momento de serenidade do espírito do filho e comentou:
- Tony... Hoje seu pai foi trabalhar muito aborrecido.
- O que foi? Reclamou de mim, já sei... – Nas outras vezes Tony já retrucava aos berros, saindo de perto da mãe, indo para a rua ou para a casa de algum colega ou da namoradinha. Ali ele só ficou de cara fechada.
- E com razão que seu pai tem reclamado dos seus modos. Você já não tem cinco anos como você bem disse, você precisa fazer como o leão. Você precisa domar a sua fúria.
Carla continuou:
- Quando você era pequeno, muitas vezes, seu pai e eu fizemos as vezes do domador. Por várias vezes eu domei sua fúria com conversas, com músicas, com orações... Agora é chegada a hora de você dominar seus ímpetos de agressividade. Precisa respeitar mais seus pais. Nós amamos você, estamos do seu lado, não somos inimigos para sermos tantas vezes atacados. E para piorar, nada fizemos para merecer essa fúria. Toma cuidado, filho, para essa agressividade não se tornar uma ingratidão com seus pais. – Carla era uma mulher sensível, porém, firme no agir. Por mais vontade que estivesse de chorar, ela mantinha-se firme para não demonstrar fraqueza. Pois ali naquele momento não era hora de fraquejar. O momento exigia pulso firme. Era tudo ou nada. Carla estava apostando alto naquela relação amorosa.
Tony parecia envergonhado. Aproximou-se da mãe e abraçou fortemente, então disse:
- Mãe, vou tentar melhorar a partir de hoje...
- Ainda bem que você disse “vou tentar” e não vou mudar! – A mãe ria nessa hora.
- Por que ainda bem, então? Mudar não é melhor que tentar, não? – Estranhou o filho.
- Não, meu filho... Mudança leva tempo. Ninguém muda da noite para o dia a não ser que aconteça uma tragédia, uma coisa que abale muito a ponto de mover uma mudança radical. Quando disse que ia tentar, então vi que você vai tentar e vai conseguir, pois seu pai e eu vamos fazer de tudo para que essa mudança seja uma realidade.
- Obrigada, mãe, pela confiança, pela força e principalmente, por essa lição do leão. Não vou esquecer nunca mais. Vou guardá-la para sempre e ensinar para meus filhos, netos bisnetos... – Tony parecia mesmo disposto a tentar “domar” seu espírito agressivo.
- Sabia que você tinha puxado a mim! Seus defeitos são do seu pai... – Brincou a mãe.
- Ihhh... O pai fala a mesma coisa, ele diz que eu só puxei dele, as coisas boas e que eu herdei os seus karmas. – Tony falou achando maior graça dos pais.
- Ai que danado! Seu pai falou isso? Deixa ele comigo... Os defeitos são deles! Mas, filho feio... Quem os quer? – Carla estava satisfeita com aquela conversa. Sentia-se revigorada e feliz por ser uma mulher forte e cheia de boas ideias na cabeça.