10 de jan. de 2019

LUGAR PARA RESTART...



Depois da violência sofrida na metrópole, chegar em uma cidade cujo slogan é Lugar de ser feliz, foi um conforto imenso. Apesar do frio serrano, aquelas palavras de boas-vindas aqueceram meu espírito, dando-me novo ânimo para os desafios que viriam em um lugar desconhecido sem parentes ou amigos. Passado o tempo de adaptação, fui criando laços com o novo habitat. O susto, o medo, as incertezas e as lágrimas foram dando vez para o sorriso, a harmonia, e a esperança de dias de paz. Aos poucos fui me sentindo segura para o convívio com os moradores locais. O símbolo de Nova Friburgo, o Cão Sentado, reforçava-me a ideia de proteção, visto que o ditado nos afirma ser, o cachorro, melhor amigo do homem. Era abril de dois mil e dois. A vida seguiu sem maiores sustos até dois mil e onze, quando as enchentes derrubaram a casa e o sonho de uma vida feliz em segurança. Diante daquela situação, duas opções cabíveis, sair dos escombros e levantar com o fiapinho de esperança que restara ou desistir da luta, seguindo resignada sem acreditar em mudanças favoráveis. Amante e teimosa em viver, e de ser feliz toda hora, claro que saltei por cima dos destroços da alma, e me fortaleci com as experiências angustiantes. Hoje recordando os percalços vividos, tenho esta convicção: lugar de ser feliz não se limita a um espaço físico, e sim na força interior com a coragem de se tentar mais duas ou cem vezes por bons dias futuros.

MALMEQUER...


Há alguns dias quando retornava para casa, o sinal fechou, enquanto o carro permaneceu parado pude ver, ao lado da barraquinha de artesanato, uma balzaquiana chorando copiosamente. Não estivesse no trânsito, talvez me aproximasse para um conforto em palavras, embora atualmente as pessoas vivem desconfiadas até da fé, e eu poderia ser mal interpretada. Algumas vezes me privo de ser mais solícita por me preocupar com a reação alheia. Durante o percurso para o meu destino, na mente a ideia de que pagaria à vista o valor de mil libras esterlinas pelo pensamento da mulher. O motivo da aparente tristeza seria o fim do romance ou a perda de alguém querido? As lágrimas em profusão seriam por mal físico? Desemprego? Ou depressão? Não demorou muito, assim como a paisagem ia mudando a cada quilômetro rodado, minha mente ocupou-se com outros pensamentos. Nossa, o Natal já logo bate à porta! Isso me fez recordar de quando ganhei o livro A Gata Borralheira, e de que sonhava com um amor tão grande e infinito como o da Cinderela e seu Príncipe Encantado. A evolução das ideias me fizeram entender que amor como o deles não existe. E amor-perfeito mesmo a gente só consegue pagando por ele em floriculturas...

ENTRELINHAS DO MEU SER

Tudo teria sido diferente no ontem se eu tivesse esta gnose que tenho hoje. Decerto erraria menos, e não perderia tempo, calma e saúde com quem ou com o que não valesse a pena. Não iria a lugares que fui nem me relacionaria com gente indigesta. E teria me arriscado mais! No esporte, na Literatura, na dança que tanto amava e, por sujeição patriarcal, me vi obrigada a abandonar vontades. Em contrapartida me pergunto, seria eu esta mulher que me tornei se não tivesse provado situações, e conhecido pessoas, ainda que nem sempre agradáveis para o meu deleite? Poderia ser que me tornasse esnobe e chata. Senhora de mim demais a ponto de ficar sem clima, não conseguindo me relacionar com as pessoas da mesma idade. A vida toda busquei por conhecimento. Gostava de saber de tudo, e de tudo saber como funcionava. Queria ter todas as respostas, mas se as soubesse eu seria Deus! Como não tenho sabedoria para Criador, contento-me com meus tropeços, meus desencantos, minhas gafes e minhas divertidas atitudes. Tudo o que vivi foi necessário para minha evolução, admito. Deus me moldou no melhor possível, e se não tivesse sido como fui, eu não me transformaria na mulher que me tornei. E quer saber, eu me gosto um tanto assim!
Desenho da minha filha.
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