19 de jul. de 2009

UM CONTO REAL DE SONHOS QUE RESGATAM HISTÓRIAS...


Drumond-Vinicius-Bandeira-Quintana e Mendes Campos


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UM CONTO REAL DE SONHOS QUE RESGATAM HISTÓRIAS...



Os sonhos resgatam histórias... A mente humana é mesmo incrível! Como pude esquecê-los, meu Deus? Não, na verdade eles estavam adormecidos em mim num lugar bem guardado da memória e hoje o sonho os despertara da lembrança.

Pediria que o tempo me oportunizasse apenas cinco minutos, como no belo romance de José de Alencar, pois em cinco minutos muda-se um destino. E faria muita diferença para mim se eu pudesse reviver aquelas tardes ainda que em cinco bem aproveitados minutos. Isso! Agora, hoje, já eu saberia dar mais atenção aqueles momentos que não soube enquanto jovem, apesar de ter dado valor.

Numa esquina ficava aquele antigo armarinho de aviamentos. Era pequeno, havia pouca luz e a fiel cadeira que aqueles três idosos deixavam separada para que eu me sentasse enquanto aguardava a minha amiga.

De início, eu esperava minha amiga de pé em frente aquele estabelecimento comercial por me parecer mais seguro. Com a frequência, creio eu, despertei a atenção daqueles senhores que a mesma hora do final da tardezinha, horário da saída do meu colégio, eles se reuniam para conversar.

Sempre com uma caneta, um pequeno caderno e alguns livros na mão, eles começavam aquele diálogo. Eram poetas!

Aproximação e contato. Começou assim de soslaio, depois uma tímida troca de olhares. Havia curiosidade. Da minha e da parte deles. Quem seriam eles? Quem seria eu? A curiosidade ou preocupação, talvez, com a minha constante presença naquele local foi saciada com aquela pergunta:

“- Está esperando alguém, mocinha?”

Foi a porta aberta para que eu entrasse naquela conversa. Sempre acreditei que palavras são portas por isso, elas permitem que penetremos na vida e no momento do outro. Como fiquei feliz de ouvir aquela simples pergunta. Sabia que detrás dela um mundo de respostas me saciariam as minhas curiosidades.

Olhei-os. Pude vêr os três de frente, sorri, aproximei-me dois ou três passos deles, ainda desconfiada e limitei-me a responder:

- Minha amiga.

O diálogo foi curto, porém, havia muito mais naquela pergunta feita e na resposta dada. Foi a quebra do gelo do desconhecido, soou como um “muito prazer, nós somos poetas” e “ah, eu sou estudante e adoro ler, o prazer é todo meu”.

Foi a partir daquele momento que aquelas esperas solitárias tornaram-se ricas tardes literárias. E já não esperava mais em pé, sozinha. Na roda dos intelectuais ao longe avistava uma cadeira vaga. Era a minha cadeira. E no meio deles, poetas anônimos, absorvendo tanta sabedoria, muitas vezes me imaginava integrante de uma cadeira da Academia Brasileira da Letras. Eu adorava imaginar-me assim e não fazia diferença ser ali no meio da rua.

No meio deles, homens idosos e cultos, por muito tempo enchi minha bagagem do pensamento de ideias e nunca me senti tão rica de conhecimentos quanto naquelas tardes em que saía do colégio. Talvez eu tenha aprendido muito mais entre eles pela partilha de vida, de cultura do que havia aprendido em anos de colégio. Com eles agreguei sabedoria que não é dada em sala de aula, pois certos aprendizados nos chegam como presentes. Muitos têm oportunidades como eu tive, porém, nem todos dão valor.

É por isso que não desperdiço nada nem ninguém. Livros, folhetins, palavras, pessoas. Sejam novas, velhas, usadas ou não, são sempre muito bem recebidas. Conhecimento é uma riqueza que nunca é demais possuir.

Fui despertada agora do sonho para escrever esse fato. Mas, ainda que acordada, eu nunca deixarei de sonhar...



Djanira Luz
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