5 de abr. de 2009

VOCÊ SE ENGANA!!!


VOCÊ SE ENGANA!!!

Quando tentou me convencer com aqueles grandes e arregalados olhos verdes feito aos da cantora Maysa e com uma maquiagem exagerada para compor o perfil esotérico, sorri e num gesto delicado, retirei a minha mão que já estava de posse das mãos ágeis dela. Interessante coma elas são rápidas, como têm o poder de persuasão incrível. Ao olhar em volta de mim, pude ver várias delas abordando jovens, homens e mulheres oferecendo por um preço meio salgado o serviço da quiromancia.

Ao deparar-me com essa cigana, fui reportada para meus dezoito anos quando eu e Cida passeávamos por um calçadão rindo de não sei o quê. Aliás, eu só vivia com as canjicas de fora. Até hoje sou assim. Acho que levei à sério demais aquele jargão “Rir é o melhor remédio”, pois procuro sorrir até para quem não conheço quando cruzo a rua e cumprimento transeuntes. As pessoas se assustam quando alguém sorri e é gentil porque hoje o normal é encontrar pessoas com cara de assustados segurando a bolsa como se fosse o último bem sobre a terra. O povo se não está assustado, está de testa franzida. É tanta violência, é tanto aumento que o povo antes alegre, descontraído, já anda feito Curupira, com o pé atrás... Se a coisa fica esquisita, “pernas para que te quero”! Zás... Cai fora.

O sorriso só não assusta a cigana. Para ela o sorriso soa como um convite, como um pode vir, a porta e o coração estão abertos às suas investidas! Mas, a cara fechada ou assustada, não se engane, não será empecilho para a aproximação dessa trapaceira.

Naquele dia no calçadão, ainda recordo aquela cigana que se aproximou de mim e da Cida com longos cabelos ondulados e na parte da cintura para baixo havia uma trança amarrada com uma fita vermelha, um lenço ou bandana também vermelho na cabeça. Trajava um vestido rodado vermelho florido com detalhes amarelos, umas tantas pulseiras de arco douradas nos braços, trazia pulseira no tornozelo tipo moedas douradas. Vários cordões que faziam barulhos ao seu movimento. Creio que tudo isso faz parte de encantamento para ludibriar a pessoa que a cigana vai interpelar. Havia um cheiro que naquela época não identifiquei. Era o aroma do incenso de patchouli. Deveria ter mais ou menos a minha idade hoje, uns quarenta e poucos anos.

De tanto que insistiu, a Cida ficou curiosa e aceitou a leitura das linhas das mãos. A cigana falou qualquer coisa que deixou a Ci preocupada. Ci não disse nada. Só pelo fato de ficar fungando, eu sabia que ela tinha ficado assustada com alguma coisa. Então, a Ci falou:

“-Agora é a sua vez!”

Disse que não queria coisa e tal. Mas, para provar para a Ci que tudo aquela falação da cigana era balela, deixei que a cigana fizesse também a leitura das minhas mãos. Sabe o que ouvi? Confirmação de que tudo aquilo não passava de enganação. O que a cigana diz ser adivinhação, eu chamo de probabilidades.

Vamos lá as tais adivinhações:

Aquela cigana falou que eu casaria. Adivinhação? Probabilidade...

Disse que eu teria muitos filhos? Adivinhação? Probabilidades... Com ressalva: Durante oito anos tentei engravidar, fiz tratamentos, só então depois de longos oito anos, engravidei. Tenho duas dádivas de Deus. Embora quando eles estão muito barulhentos chego a dar créditos para aquela cigana, pois eles parecem bem mais do que apenas dois...

Eu ficaria muito, muito rica. Adivinhação? Probabilidades... Quem estuda, corre atrás consegue viver uma vida abastada. Mas, no momento sou rica sim, de saúde...

Que meu marido seria muito ciumento. Adivinhação? Probabilidades... Homem que ama tem sempre um ciumezinho que seja. Não é insegurança, é zelo, bem querer.

Foi basicamente essas adivinhações que a cigana me revelou entre outras coisas que não vale a pena revelar porque nada mais é que probabilidade.

Lembra-se do matemático Oswald de Souza que dava os números de acertadores na Loteria Esportiva? Então, Oswald não era adivinho. Ele não fazia adivinhações, eram probabilidades. Matematicamente Oswald de Souza calculava qual a percentagem de chances e quantidades de acertadores dos jogos de azar.

A cigana sempre vai olhar para uma jovem e dizer:

“- Você vai casar, ter filhos, seu marido será ciumento, vejo que você terá em sua vida um casamento e meio (traição), vai engordar...”

Essa mesma cigana irá dizer sempre para uma pessoa de meia idade:

“-“Você vai perder alguém na família (todos nós perdemos alguém na família, nem que seja um parente distante);

“Você terá hipertensão ou diabetes ou ou ou... (a maioria acima de quarenta e cinco se não maneirar na alimentação e não sair da vida sedentária, sofrerá de algum mal).

"- Vejo divórcio na sua vida..." (Raridade é casal que não se separa hoje em dia!)

E nem preciso ser Sherlock Holmes para investigar e dizer ao caro Watson que tudo isso não passa de probabilidades e não de adivinhação! Pois, isso é mesmo elementar, meu caro leitor!

E nem me venha cigana jogar feitiço sobre mim... Pois isso é o que elas melhor sabem fazer. É ficar rogando praga em cima de quem não aceita seus serviços.

De feitiço para feitiço então é bom que tomem cuidado... Minha avó baiana boa, da terra do povo místico, primitivo, antes de morrer, disse-me quem fizesse ou proferisse algum mal para mim sofreria um mal dobrado. Praga por praga, segundo ela, estou pra lá de protegida...

Agora, questiono a você, leitor... A minha avó rogou praga ou proteção em mim? Nenhuma das duas coisas. A minha avó era sabida. Ciente do verdadeiro provérbio: “Aqui se faz, aqui se paga!” Vovó sabia que todo aquele que faz um mal ou profere o mal a alguém, um dia esse mal volta impiedoso a quem desejou a maldade.

Mas, voltando a cigana do início da minha crônica, retirei a minha mão e ela começou a falar que se eu não permitisse que lesse minhas mãos, aconteceria isso e aquilo outro comigo. Então, eu novamente sorri e antes de me afastar, respondi:

-Cigana... Você se engana!!!

E você, acha que isso mesmo é adivinhação ou meramente probabilidades?









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