4 de dez. de 2009

JOGANDO FORA O MAL E SEMEANDO AMOR...


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JOGANDO FORA O MAL E SEMEANDO AMOR...



Lia acordou cedo determinada a não mais guardar lembranças que lhe picotava o coração, deixando-a com horas chorosas de saudade do que não era para ser como desejou. Sairia apenas com a chave da casa, alguns trocados, nada de bolsas. O que levaria consigo estava dentro do coração e da mente. Era lá que Lia desejava esvaziar.

Com aquela face de que há mudanças acontecendo, saiu de casa sem destino. Iria até onde conseguisse desfazer-se de todos os pesos acumulados em sua vida.

Duas ou três ruas caminhadas. Ao atravessar a ponte, uma ideia acendeu-lhe fazendo-a parar no meio da travessia. Disse baixinho para si:

- Um rio! Bom lugar para jogar fora minhas mágoas. As águas que correm se vão e se renovam... Por isso mágoas sentidas, vão-se de mim! – Num gesto como quem põe fora dissabores, Lia abriu os braços para que saíssem do coração as tristezas aprisionadas. E rindo com a alma um pouco aliviada, seguiu caminhando.

Carros, sinais, prédios, buzinas, gritos, risadas, crianças, cães abandonados e o sol sorrindo-lhe iluminava a manhã dourada de alegria amanhecendo.

Um mal cheiro de repente invadiu-lhe as narinas, fazendo com que acelerasse o passo na intenção de fugir daquele odor desagradável. Antes, porém, achou que ali seria o local ideal para depositar as palavras ofensivas que havia recebido desmerecidamente por defender uma boa causa. Sim, ali no esgoto era um ótimo lugar para palavras más e ultrajes que havia guardado por muito tempo.

Se tivesse respondido aquelas ofensas não estaria cheia delas dentro em si. Mas, Lia sabia que se devolvesse as agressões sofridas certamente se igualaria ao feio ataque recebido. E ela não se parecia nada com os que têm facilidade em atacar com palavras-pedras que ferem.

Livre das mágoas e injúrias, aos poucos percebia melhoras na aparência da mulher que acordara disposta a modificar seus dias dali para frente. E continuou andando.

Ao passar pela praça, viu o velho e conhecido jardineiro revolvendo a terra, tendo ao lado algumas mudas de árvores. Os olhos de Lia sorriram. Uma doce imaginação ocorreu-lhe naquele instante. Sorrindo, educadamente disse ao responsável pela conservação da praça:

- Bom dia, senhor Zé jardineiro! – Havia tanta doçura nas palavras da Lia que dava impressão que flores abriam cada vez que ela sorria.

- Muito bom dia, minha querida! – O jardineiro a viu crescer e desde menina traduzia no seu gesto por ela, um amor de avô.

- Sabe, vozinho Zé, quero pedir um favor. Ando muito triste porque quem muito amei foi-se de mim e penso não haver chances de volta. Hoje saí de casa decidida a lançar fora tudo o que me entristece. Vendo o senhor semeando árvores, vim pedir para que uma dessas mudas plante com o nome de (...), ela vai crescer linda e forte como o amor que nutro por ele. – Lia segredou ao ouvido do velho amigo o nome do seu amado. A voz dela estava tremida, os olhos marejados, o coração apertado. Havia ainda muito amor naquela alma feminina.

- Ah, menina... Que coisa mais linda esta que me pede para fazer! Quantos praguejam o amor que se foi e você querendo eternizá-lo com a vida desta árvore... – O jardineiro Zé também tinha lágrimas emocionadas descendo pela face. Coisa rara testemunhar um amor assim atualmente.

Antes de escolher a árvore que guardaria toda aquela paixão, o jardineiro perguntou:

- Lia querida, pode me dizer o dia do aniversário do seu amado?

Apesar de estranhar a curiosidade do amigo, Lia respondeu. Então o Zé falou:

- Então, vou plantar o árvore de Abeto, pois os místicos dizem que cada um de nós caímos de uma árvore e, pela data que me disse, ele é um Abeto. Disse rindo o bom senhor.

Lia gostou de saber, aliás, adora árvores coníferas porque lembra árvores de Natal que tanto ama. Após ajudar no plantio do Abeto, Lia agradeceu ao amigo e seguiu bem mais aliviada e feliz.

Pouca coisa restava para Lia desfazer-se. Aproximou-se da fonte da cidade, tocou levemente na água fria, molhando em seguida as mãos. Um choro fácil deslizava pela face, eram lágrimas de saudade. Fazendo da mãos uma cuia, bebeu um pouco da água, depois lavou a face chorada.

Era o que restava abandonar. A saudade que deixava tudo menos colorido e que a impedia de ver que a vida seguia seu curso independente das perdas, das dores e dos amores idos.Como tudo que se foi pelo caminho, a saudade haveria de permanecer naquela fonte.

Lia percebeu que já era hora de retornar para casa. Tinha consciência de que era necessário coragem para se desfazer de tudo que abandonara pelo caminho. Mesmo das coisas ruins, pois o orgulho, o rancor, o desejo de vingança alimenta o espírito impedindo-nos de jogarmos fora o mal que nos foi ofertado.

Mas, Lia sabia que mais difícil era aceitar o fim de um amor. Amor que é raro nos dias atuais e que muitos não acreditam em sua existência. Dizem que amor não passa de lenda, de histórias de contos-de-fada.

Lia sente compaixão de quem não conhece o verdadeiro amor, por isso não se importava quando zombavam por falar do amor com tanta propriedade e certezas. Só quem nunca amou e foi amado de verdade pode duvidar da sua existência.

Lia conheceu o amor sincero, único. Aquele que vale a pena e que foi tão imenso capaz de ser plantado e eternizado numa bela e frondosa árvore como uma lembrança refrescante para toda a vida.





Djanira Luz


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