27 de jul. de 2009

QUANDO UM MAL FAZ-NOS MELHORES...


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QUANDO UM MAL FAZ-NOS MELHORES...




Queria fazer o curso de turismo, quando abriu inscrição foi uma das primeiras da fila para matricular-se. Sentou-se no sofá da sala de atendimento para preencher a ficha, foi quando lembrou que teria de adiar, outra vez, aquele sonho.

Luísa era divorciada, órfã de mãe e vivia com o pequeno Luan e o pai idoso que sofria de Alzheimer. Apesar de amar muito o pai, algumas horas sentia o peso e o desconforto de ter que abdicar de muitas coisas por cuidar dele.

Sem parentes por perto que pudessem ajudá-la, Luísa andava frustrada desde que o pai foi acometido pela doença ingrata. Tinha a sensação de estar convivendo com um estranho. Ele não a reconhecida, era um dos muitos sintomas do mal de Alzheimer. Ela não o reconhecia por estar diferente do pai amigo, forte, saudável de anos atrás...

Quando o Luan parou de usar fraldas, Luísa comemorou com alguns amigos esse acontecimento. Afinal não precisaria sair de casa com malas de pacotes de fraldas. Essa felicidade durou pouco. Logo em seguida, a doença agravou. Na fase intermediária, compreendida entre a inicial e a final, o portador de Alzheimer desenvolve a incontinência urinária. Seu Plínio estaria condenado a usar fraldas até o fim da vida.

Foi um choque, Luísa quase surtou. Entre o sentimento de compaixão e ira do pai, numa complexidade de emoção quase explodia em culpas. Sentia pecadora por odiar viver aquilo, por ter que cuidar sozinha do pai, de fazer a higiene, de tratá-lo como um bebê, sem sê-lo! Ao mesmo tempo, Luísa cheia de ternura compadecia daquele pai antes tão autônomo, agora a sua frente frágil e tão dependente de tudo.

Depois que a mãe morreu, Luísa teve de abandonar o trabalho para cuidar do pai e do filho. Sem condições de colocar o pai num asilo ou numa clínica geriátrica, o jeito foi abrir mão da profissão e viver da aposentadoria do seu pai e dos rendimentos da sua poupança.

Quantas noites em claro e solitárias. Não via diferença entre o filho de um ano e meio e o pai de setenta de dois anos. Ambos frágeis e dependentes dela. Ao passo que Luan começa a pronunciar algumas palavras, o pai fechava-se em total mutismo. O Mal do século estava aniquilando o pai.

Luan quando nasceu encheu de alegria a vida da Luísa. Mesmo depois do divórcio, aquele menininho colocava sempre um sorriso no rosto e na alma dela. Por ter que dispensar cuidados com pai, embora amasse demais o filho, Luísa sentia que estava negligenciando o menino e isso a fazia infeliz.

Não estava conseguindo ser boa mãe e boa filha ao mesmo tempo. O pai tinha alucinações ficava agitado, algumas vezes agressivo por isso precisava de cuidado redobrado. Certa vez ele pegou um garfo e partiu para atacá-la dizendo que Luísa era um assaltante. Só depois de muita conversa e paciência, Luísa conseguiu acalmá-lo.

Por isso Luísa não tinha coragem de pedir ajuda a nenhum amigo, a ninguém. Sabia que só alguém que ama muito seria capaz de cuidar de um portador do mal de Alzheimer. Geralmente só a família que conheceu a pessoa saudável preserva o amor pelo doente. Ainda assim, alguns momentos Luísa também sentia aversão por estar vivendo tudo aquilo.

Mas, Luísa fazia tudo por amor ao pai. Era o mínimo que poderia fazer em retribuição por anos de amor e atenção que o pai lhe dispensara. Tudo o que lhe fizesse ainda seria pouco. Movida a esse sentimento é que Luísa suportava todos os maus momentos. Sentia que com o Mal de Alzheimer, com cruel doença do pai, aos poucos ia se tornando uma pessoa melhor, mais humana, exercitando a paciência, a compaixão começava a rever conceitos e com isso crescia interiormente. Nunca imaginou que de um mal poderia se tornar uma pessoa melhor...

Por conta da doença do pai, Luísa havia perdido o namorado que tanto amava. O rapaz não teve a sensibilidade de compreender aquele momento. Aliás, sempre que Luísa tinha a chance de conhecer alguma pessoa interessante, ao visitá-la, seus pretendentes sempre davam uma desculpa não voltando. As esquisitices da doença, a incontinência do pai que, muitas vezes tirava a fralda no meio das visitas, aquele constrangimento afastava qualquer possibilidade de novo relacionamento para Luísa.

Quando tudo parecia sem esperanças, numa das idas ao médico geriátrico do pai, Luísa conheceu Félix, cuja mãe sofria do mesmo mal que o senhor Plínio. Entre confissões de embaraços que enfrentavam, Luísa e Félix descobriram afinidades entre si. Um sorriso voltava a surgir na face daquela mulher. Félix demonstrava alegria na companhia de Luísa.

Ao fim da consulta do mãe, antes de ir embora do consultório, Félix entrega seu cartão para Luísa que fica muito feliz. No cartão Luísa vê além do telefone do rapaz, ela vê para ambos, possibilidades...


Djanira Luz

DE TODAS AS FORMAS EU ME VALI...


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DE TODAS AS FORMAS EU ME VALI...




-Alô, Ju! O que faço? Rui acabou de sair e eu precisava falar com ele... Já sei! Tchau, Ju!

- Alô! Alô! Dani... Dani? Doida! Desligou... - Ju achou graça da Dani.

- Vou deixar um bilhete e colocar debaixo da porta! – Disse para si.

Mozinho, eu já me virei do avesso, me rasguei em verso e prosa, gastei minhas salivas, me despi de vergonhas para demonstrar o quanto te amo e tu não vês? Será que não percebes pelos meus gestos que há muito te quero? Eu me faria transparente feito a água para que compreendesses e visses com clareza este grande amor por ti. E que não há e nunca houve outro que mereça todo este amor que cabe em mim... Deixa de ser bobinho, vai! Esqueça isso... Pense em nós e em tudo que vivemos! Já não tenho mais palavras, Rui, pois de todas as formas de expressão me vali para dizer de um único jeito que eu te amo... Beijos tantos forem necessários. Sua Dani. Em 27/07/2009 – 11 horas.



Djanira Luz
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