8 de dez. de 2010

VIDAS QUE SEGUEM...



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VIDAS QUE SEGUEM...




Passava das dezenove horas. Os que estavam na confusão do trânsito desejam chegar o quanto antes aos seus destinos. Buzinaços. Xingamentos. Carros furiosos aceleravam como desejando passar por cima dos veículos posicionados em frente ao caminho a seguir.

Diante de Davi, um motorista em seu Lamborghini esbravejava forçava ultrapassar o carro mais a frente para fugir do congestionamento. Pelo jeito agressivo intencionava atravessar o canteiro da avenida. Abrindo lentamente o vidro do carro, pondo a cabeça para fora, o motorista que estava a frente do Lamborghini disse para o motorista alterado que forçava passagem:

- Pode passar, meu amigo! Estou tranquilo. Minha mulher é linda e adorável. Não tenho filhos, tenho anjos maravilhosos. E estou aqui curtinho um som divino na minha BMW bem alegre da vida! – Disse rindo com a sua aparência serena de quem realmente é feliz, dando passagem para o motorista nervoso.

Davi pôde ouvir os xingamentos do motorista do Lamborghini cantando pneu executando manobra arriscada ao atravessar o canteiro para a outra pista.

Inclusive Davi sentia-se irritado com aquela demora. Quis também avançar sinal, fazer ultrapassagem arriscada, vociferar. Depois, porém, de ouvir e ver o motorista daquele carro, pareceu incomodado com seu próprio temperamento impaciente. Parou de buzinar, subiu o vidro do carro. Começou analisar a atitude daquele motorista espirituoso. Com a saída do Lamborguini da sua frente, visualizou melhor o modelo do carro do homem alegre.

Só então Davi entendeu tratar-se de humor tudo o que o homem havia dito sobre sua vida, a começar pelo carro que conduzia. Não estava mal conservado, mas pelo ano e modelo, Davi deduziu que estava fora de linha há mais de quinze anos. Certamente a mulher do homem bem humorado não era nenhuma deusa da beleza, porém, deveria ser mesmo adorável. E seus filhos anjos não eram. Filhos amados, sim.

Olhou o pulso admirando seu Audemars Piguet e de repente Davi sentiu-se profundamente envergonhado com a atitude de ficar buzinando e reclamando ali por nada. Na verdade era ele quem deveria estar feliz da vida, pois tudo o que o dono do carro velho brincou ter, ele tinha. Uma mulher bonita, filhos educados, estava dentro de uma Ferrari Fiorano, tendo no pulso um dos melhores relógios do mundo! Mesmo de posse de todos aquelas maravilhas, Davi sentiu inveja daquele homem que sem possuir grandes bens, mostrava-se satisfeito e paciente com a vida e com o que possuía.

Davi estava visivelmente decepcionado. Apesar de tudo que possuía, sentiu o íntimo vazio como se lhe faltasse algo. E começou analisar a própria vida. Viu que era fácil para sua mulher estar sempre bela tendo a sua disposição todos os melhores recursos para cuidados da pele, do cabelo, do corpo. E que era comum encontrá-la a todo momento alinhada. A boa vida que levava proporcionava-lhe condições de adquirir as melhores grifes. E era fácil também ter filhos educados! Cuidava para que eles se ocupassem de várias atividades diárias: exercícios físicos, aulas de línguas estrangeiras, oficinas de artes e tudo mais quanto desejassem. Davi ia pensando no pouco tempo que passava com os filhos. A falta de contato o impedia de perceber se eram ou não bons filhos de fato. Aos poucos foi conscientizando-se da vida que estava levando. Sentiu-se culpado pelas ausências na vida dos filhos. Encontraria um jeito de desfrutar mais da companhia deles!

E, olhando a sua volta, viu que tudo era irrelevante. A pressa, a irritação, a impaciência, nada mais lhe incomodava. Nem as buzinas dos carros, nem os xingamentos dos outros motoristas. Achou incrível que pela alegria e humor de um estranho foi capaz de perceber e valorizar bens maiores que os bens materiais que orgulhosamente sustentava e priorizava em sua vida. Em tempo, Davi resgatou valores realmente importantes. Sua vida e sua família.

Ali, preso no trânsito caótico, ia dizendo para si:

- Em determinados momentos da vida é necessário que fiquemos diante de algum desconforto para que se torne melhor o caminho por onde seguiremos. Estou voltando para casa por outros caminhos de ideias e com novas atitudes a serem tomadas.

A volta para casa nunca fora tão tranquila e agradável quanto naquela sexta-feira. Davi achou mesmo proveitosas aquelas horas perdidas, mesmo em um exaustivo congestionamento.

                                

Um comentário:

  1. Olá, Djanira! Esse é uma dos poucos homens de bem, acho que podemos considerar assim. Fez uma autoanálise de sua trajetória, reavaliou seu comportamento diante da vida e resolveu modificar hábitos. A maioria, infelizmente, faz todas as loucuras, desfia impropérios contra o semelhante e ainda se julga certa. Um abraço grande. Paz e bem.

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;Djanira LUZ

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